quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

De passagens



Desde criança - mais precisamente quando comecei a entender o que poderia significar a palavra "esperança" -, sinto um frio na barriga todo 31 de dezembro.
A gente coloca tudo nele: as lembranças boas e ruins do ano que termina, os sonhos e desejos do ano que vai começar. Quando está junto de outras pessoas, você aposta isso no coração delas também. E pensa, vibra, torce por todos que ama.
Por tudo isso acho esse ritual mais do que necessário. O que seria da gente se não conseguíssemos sonhar nem que por uns minutos? Suspirar fundo, estampar um sorrisão e abraçar forte esta esperança que somos capazes de alterar a vida. Somos deuses de nós mesmos, ora.
E temos mais é que aproveitar.
Feliz ano novo, sempre!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Qual a sua história?

Há uma coisa muito maluca que acontece em família. Não sei se é culpa da genética ou convivência. Muitas vezes eu falo alguma coisa e ouço a voz da minha mãe saindo dentro de mim. Nenhuma referência paranormal ou mediúnica ou o nome que for. É bem física mesmo: a minha voz se torna a voz dela. O mesmo acontece em relação a minha irmã. Às vezes acho que me mexo como ela, meu jeito de deitar no sofá, cruzar as pernas, passar a mão no cabelo. Claro que a gente tem que se conhecer de cor para perceber isso. E é sutil. Sutil como é a influência da convivência. Sutil como é o afeto. Sutil como é esse imitar sem querer. A gente vai se copiando e mantendo os laços, revivendo os outros dentro da gente. Temos uma história, afinal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hoje o tempo vai permanecer bom...


Essa nossa mania de adjetivar tudo ou dividir entre bom e ruim às vezes nos dá umas situações bem curiosas. Acabo de ler o "chapéu (é um nome que damos no jornalismo para as palavras que ficam acima da chamada principal, da manchete de um jornal, site, revista, etc)" no UOL que está escrito MAU TEMPO. Sim, o tempo é mau. Nós estamos nesse dia maluco aqui na cidade de São Paulo porque o tempo é que é mau. Não o jeito que soltamos poluentes no ar, a forma que maltratamos o restante da natureza. Não porque nossos governantes acham que tudo bem as pessoas viverem em barracos que podem desabar em terra a qualquer momento.
O tempo é mau.
E, nós, somos bonzinhos é?
Que Copenhagen nos ouça, nos veja...

foto de Luiz Guarnieri, publicada no site UOL

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Olhem meu sabiá!!


Fiz um conto para a CRESCER de novembro e vocês podem ver esse sabiá especial no site.
Esta ilustração é de Kleber Bellatto.

A Menina que o Sabiá Seguia

Ele a acompanha desde a infância.
É o primeiro som que ela escutava da rua.
Tem jeito de paz, cheiro de lembrança.
Se conhecem dos tempos de infância.
Ele estava lá no caminho dela da escola, nas manhãs.

Voava a seu lado na volta para casa.
Nos passeios ele também estava lá.

Com a mãe, ela sentava na grama do parque, jogava pão para os peixes.

Ele ficava fitando-a na sua grande aventura de ir até
à beira do lago, imaginar um quase-cai, um quase-perigo.

O sabiá adorava veramenina em plena felicidade.
Tinha tempos que ele sumia de seus ouvidos.



Mas chegava setembro e ele estava de volta,
pronto para anunciar o sol, dar bom-dia.

Ela cresceu e ele imaginou que seria difícil acompanhá-la.
Que nada.


Ela morou em casas diferentes, viveu outras
histórias e, por um tempo, ele sumiu de novo.
Mas voltou no setembro e ficou com
ela nas manhãs e nos passeios.
É o primeiro som que ela escuta da rua

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vem que tem Simonal!


"Eram duas horas da manhã de 23 de fevereiro quando doutor Roberto Simonard e aquela pequena plateia de anestesistas e enfermeiros ouviram pela primeira vez a voz de Wilson Simonal, do alto de seus impressionantes quatro quilos e duzentos gramas".

Parece apenas uma descrição simples mais amei o jeito de colocar as palavras, do brincar de sentidos, do frio na barriga provocado pelo jornalista Ricardo Alexandre, nas primeiras páginas de Nem Vem Que Não Tem - A vida e o veneno de Wilson Simonal, que a Editora Globo lançou mês passado.

Eu adoro histórias, seja em biografias em livros, documentários ou longa-metragens, seja num bate-papo com colegas. Adoro saber quando Tom conheceu Vinicius, que Paul e George iam juntos para a escola, que Tolkien adorava bater papo no Lamb and the Flag em Oxford. Adoro saber como tudo começou, que rumo tomou e porquês. Adoro porquês.

E, ainda bem no começo por total falta de tempo, estou me deliciando com a história de uma das maiores polêmicas de nossa música. E é tão maluco ler boas biografias, porque você sabe o 'final', mas envolve-se tanto com o início que meio que aguarda uma surpresa, uma alteração na história com jeito de H maiúsculo. Talvez me venham novos porquês. Tomara.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quero ser outra...


Chega de opinião por todos os lados.
Chega de correria, beijo rápido, almoço curto.
Chega de 'se não tem vermelho vai preto mesmo'.
Chega de aceitar não ver o por do sol todos os dias.
Chega de dar desculpas, de entender o melindre dos outros.
Chega de cuidar demais.
Chega de regras, de agradar somente os outros.
Chega de ser eu mesma.
Queria ser outra. Nem que fosse um pouco.
Queria ouvir mais pássaros, menos barulho.
Queria correr na grama descalça e sem motivo.
Chega dos outros. Queria mais um pouco de mim.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O que faz um ídolo?

Eu tinha 6 anos quando entendi o que era a relação de um fã com ídolo.
Era um dia histórico para a música, o assassinato de John Lennon. Vivíamos, então, dia 8 de dezembro de 1980 e a notícia da morte do Beatle tinha tomado conta do mundo e atingido a minha casa como bomba. Meu irmão, beatleomaníaco, sentia uma dor que tinha levado uma pessoa que ele nunca sequer encontrou. Uma pessoa com quem ele nunca tinha conversado. Mas alguém que ele havia anos ouvia todos os dias, sabia detalhes de sua vida, decorava tudo que ele tinha feito até que Mark Chapman decidiu que era hora de colocar fim, em plena Nova York. O símbolo de tudo era uma fita preta que meu irmão amarrou no braço. Seu luto e tristeza por alguém que ele nunca conversou.

Não por acaso, minha adolescência foi repleta de tietagem e as mais fortes foram The Police e U2. Fazem parte da minha vida até hoje, claro, mas de uma forma diferente. E nunca precisei abandonar isso. Adoro curtir tudo até hoje, mesmo que de forma menos intensa. Porque nunca fui de fazer loucura, eu tinha uma turma na adolescência e tudo girava em torno da música. É a música que me move. Em tudo, nunca posso ficar sem ela por muito tempo. É ela quem me leva a uma privilegiada infância regada a Abbey Road, Ópera do Malandro, uma adolescência de Joshua Tree...

E depois de, já aos 35 anos, emocionar-me desse jeito ao andar pela famosa Abbey Road em Londres e adorar ir exatamente no local de um dos clipes do U2, vejo que ter vivido essas paixões são ótimas lembranças.
E é lindo de novo me solidarizar com o sentimento do meu irmão, que viveu aquela dor, aquela saudade do que John ainda ia fazer, a tristeza à distância, a compaixão que aproxima, a paixão que me fez sentir tão bem na companhia de estranhos de vários idiomas, outras histórias, com o mesmo objetivo de dar uns passos na mesma rua que o mundo todo conheceu.


Estar lá fez todo o sentido.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O amor sorri


Adoro adorar esse sorriso e desejo desejá-lo sempre.
Com música, com foto, com cinema, desenho, design, letras, muitas leituras e revivências.
E os Beatles já disseram, repito:

Any time at all, any time at all, any time at all , all
you've gotta do is call and I'll be there.
If you need somebody to love, just look into my eyes, I'll
be there to make you feel right.
If you're feeling sorry and sad, I'd really sympathize.
Don't you be sad, just call me tonight.
Any time at all, any time at all, any time at all , all
you've gotta do is call and I'll be there.
If the sun has faded away, I'll try to make it shine,
there's nothing I won't do
If you need a shoulder to cry on I hope it will be mine.
Call me tonight, and I'll come to you.
Any time at all, any time at all, any time at all , all
you've gotta do is call and I'll be there.
Any time at all, all you've gotta do is call and I'll be there.


Feliz aniversário.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Filmes que amo 2


Hoje minha cena favorita nem poderia ser outra...
Eu tinha 14 anos quando me apaixonei por Patrick Swayze, para mim o ator perfeito: interpretava e dançava. Esta paixão por alguém que você nunca vai encontrar... um sonho, cinema, oras.

Nunca um filme tinha vindo tão bem em meus olhos, era a adolescência ali. Foi a única vez que fiquei no cinema duas sessões...
Fora que cinema na minha família é a nossa história também, nossa memória, nossa conversa, nosso troca.

Pra lembrar, no dia de hoje...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Meu sabiá voltou



Foi na semana passada, logo cedo. Pronta para a minha primeira lava no rosto do dia, ouvi. Era ele, suspirei. O sabiá voltou.
Mudei-me há sete meses e vivi esse tempo sem a companhia dele. Pensei que talvez minha nova casa não fosse do agrado deles. Mas não era possível. Minha irmã é a dona da casa e ela ama sabiás mais do que ninguém.
Me senti um tanto abandonada.
O canto também não acontecia mais no meu trabalho, nem nos meus caminhos.
Mas a lamentação acabou. Ele voltou.
Estou tão feliz, nossa. Todos os dias, todos os ligares. Agora ele sempre está.
Adoro seu canto. Me deixa feliz.
Volto no tempo, vivo de novo. Que coincidência ele estar comigo aqui, sempre penso!
Bem-vindo.
Quer ouvir?

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Filmes que amo 1


Faz tempo, eu sei. Mas essa semana o cinema entrou lá em casa e vou postando aqui cenas do cinema que jamais esquecerei. Vai a primeira. É a volta de bicicleta mais linda do cinema, com Paul Newman em Butch Cassidy.

Andem de bicicleta com eles.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

UP será a melhor coisa da sua vida



Em 10 minutos assistindo à animação UP Altas Aventuras, novo filme da Disney/Pixar, eu já pensei: “esse é o filme mais lindo que já vi”. Mas eu entendia que eu ainda iria me emocionar mais e rir muito, mas muito mesmo com a atrapalhada aventura que eu mergulhava.
Este texto escrevi para o site CRESCER, veja mais aqui.

É um dos momentos mais emocionantes que tive no cinema.
Quando o filme acabou, eu tinha certeza que nada mais seria como antes.
Experimentem.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Esses meninos, esses mineiros




Quem assistiu à abertura do Criança Esperança viu Milton Nascimento acompanhado de uma criançada linda e atores e cantores.
Eram dois grupos que me dão sorrisos sempre que os encontro. Falo do grupo Ponto de Partida com os Meninos de Araçuaí.
Quer saber mais deles? Acompanhem esse vídeo que eu e Ricardo Fiorotto fizemos para o site CRESCER.
Emocionem-se.
Mineirizem-se.
Cantem, estejam com eles assim que puderem.
É bom demais!

foto do espetáculo Pra Nha Terra, segundo CD lançado por eles. Veja tudo em www.cpcd.org.br

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Não pode

Não pode abraçar, muito menos beijar.
Melhor não tomar ônibus, nem ir ao cinema. Shopping, nem pensar.
Deixe os teatros para outros meses, quando tudo acabar.
Os amigos, melhor evitar.
Espirrou? Fique em casa.
Tossiu, vire o rosto, não toque em nada.
Gel ultralimpante. Sem hífen, fica mais puro ainda.
O que? Quer voltar às aulas? Está maluco? Criança infecta mais.
Vamos evitar ao máximo. O que? Não sei bem.
A gripe A? Aquela que começou com os porcos. Sujos, não? Fomos "sujados" por eles agora.
Está em toda a parte.
O que conseguimos evitar?
O beijo, o abraço, o aperto de mão no quase desconhecido, o encontro com os amigos, o cinema com as crianças, o aprender junto, o estar junto, essas coisas que fazem da gente ser humano.

domingo, 9 de agosto de 2009

Lewis e suas várias Alices



Apaixonei-me novamente por Alice no País das Maravilhas ao deparar com um verdadeiro sonho, na casa do escritor Ilan Brenman: a versão do mestre do pop up Robert Sabuda sobre a grande aventura escrita pelo inglês Lewis Carroll.
Jamais vou esquecer do que era folhear aquelas páginas em pop up me levando à viagem: uma Alice ficava presa na casa gigante; outra uma espécie de cone sanfonado podia ser puxado para cima e, quando eu olhava para dentro dele, via Alice ali, caindo. Eu me senti no livro.

Tenhos duas versões do livro: uma é a tradução de Monteiro Lobato, lançada pela Editora Companhia Nacional. O que adoro além da versão dele da história é o texto da mestre Nelly Novaes Coelho dizendo o que houve com Lobato quando ele conheceu a obra de Carrol e o quanto podemos pensar em Alice caindo e relacionar com Narizinho em seu primeiro mergulho no Reino das Águas Claras, e também um texto de Lobato, contando ao leitor a importância daquela tradução.

A outra versão que possuo é a feita pelo cineasta Jorge Furtado, lançada pela Editora Objetiva e com ilustrações de Mariana Newlands (muito bacanas, por sinal). Quando li na contracapa que ele havia 'abrasileirado' a história, logo temi que algo poderia me incomodar. Mas ao me entregar à leitura, entreguei-me também ao motivo de Furtado para mexer no texto de Carroll. Ele quis que os brasileiros sentissem o humor e o nonsense de Carroll por nós mesmos, com nossas próprias piadas, se posso dizer assim. O resultado foram gargalhadas inesquecíveis.

Agora estou ansiosa pela versão de Tim Burton, com Johnny Depp como o Chapeleiro Maluco (foto).
No trailer, a emoção, a piração, o nonsense: parece que vamos ver o que lemos. Nada contra a versão da Disney, não sou destas. Mas a dele pode ter o gostinho de 'mais fiel' como a para A Fantástica Fábrica de Chocolate, e Roald Dahl. Desde criança vejo e revejo a versão de Willy Wonka na interpretação de Gene Wilder e isso eu não esquecerei e nem deixarei de ver jamais. Mas também adorei a de Burton, com mais detalhes, outro final. Adoro versões bem contadas, oras!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Favor não abraçar

Imagine você recomendar a uma criança que não abrace tanto por esses dias. Coisa de tempos de gripe.
A loucura que estamos vivendo em nome de algo sem controle, novo, inesperado.
Que tipo de dia a dia podemos ter evitando abraçar, beijar?
Pra onde vai o afeto?
E qual das duas coisas pode ser pior: não pegar gripe ou não abraçar?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Uma questão de ritmo


O trânsito é uma das loucuras de São Paulo, mas pode ser uma de suas redenções.
É tanta correria sempre. A gente acorda atrasada, toma café enquanto lê jornal, toma banho enquanto pensa na roupa, seca cabelo enquanto traça na mente o caminho mais rápido para o destino chegar.
Depois no trabalho acontecem mais 200 coisas ao mesmo tempo, volta e pega o trânsito. Aqueeele trânsito.
Mas eis a chance.
Parados, temos mais oportunidade de ver a cor nova daquela casa, o bar que abriu naquela esquina, a reforma do prédio, a criança confidenciando algo a mãe, o abraço dos amigos, o beijo do casal.
No devagar, a gente vê o mundo melhor.

foto Cris. Maria Fumaça São João del Rei e Tiradentes

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Se o Paulinho da Viola mandou... por que não?


Ame
Seja como for
Sem medo de sofrer
Pintou desilusão
Não tenha medo não
O tempo poderá lhe dizer
Que tudo
Traz alguma dor
E o bem de revelar
Que tal felicidade
Sempre tão fugaz
A gente tem que conquistar

Por que se negar?
Com tanto querer?
Por que não se dar
Por quê?
Por que recusar
A luz em você
Deixar pra depois
Chorar... pra quê?


(de Paulinho da Viola e Elton Medeiros)
foto maravilhosa de Elliott Erwitt

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Um mês depois

O blog ficou só, há um mês.
Que utilidade tem um blog se ele não ganhar palavras diariamente?
Que utilidade as palavras têm se não tiverem sentido quando juntas?
Escrevo para me libertar e me pego aqui, aprisionada pela obrigação.
Não caio.
Escrever não é chatice, como destacaram frase do Chico Buarque nesta Flip.
Mas escrever não é só sentar e criar.
Escrevo com pensamentos, o dia todo. Monto frases, pinço ideias no viver.
Se as histórias acontecem à nossa volta, então escrevo a cada segundo.
E amo.
Das 26 letras, um mundo de ideias.
De zilhões de ideias, as escolhas, nós ali por meio delas.
Nos transparemo-nas.
E trocamos. Mas nunca finalizamos.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Poesia e criança, por Ana Maria Machado


Raul da Ferrugem Azul é o livro que mais lembro da minha infância. Ana Maria Machado conta a história de um menino que começou a se surpreender com bolas azuis pelo corpo e fica apavorado. E, depois, começa a entender que elas aparecem conforme ele "engole" as injustiças da vida... Aquilo, acredito que em meus oito anos, me pegava concretamente. Quando via uma amiga minha sendo vítima de preconceito racial, lá ia eu olhar para o meu braço e ver se eu tinha aquele "sarampo azul" que minha mãe tentava me explicar.

Ana Maria plantou em mim a semente da solidariedade e, como ela diz, não é dizer a palavra que vai atingir o leitor-criança e sim, uma história bem contada. Era um tempo em que escrever para criança sinalizava como algum tipo de esperança em um país que parecia estar condenado.

Pois eu tive uma excelente, animada e emocionante conversa com ela para o site CRESCER.

Vale muito a pena, pois falamos de poesia, em virtude do livro que ela acaba de lançar, Sinais do Mar, pela Editora Cosac Naify.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Me perdi com os Titãs

Eles me levaram longe. O documentário Titãs A Vida Até Parece uma Festa é, sim, com cenas gravadas na intimidade da banda.
Mas eu estava ali.
Em frente à televisão de sábado tentando entender aquele mexer de oito corpos. No gargarejo dos shows, cantando todas as letras, fugindo dos mais exaltados em Polícia.
Eu estava ali com minhas amigas à porta do camarim, à espera de um sorriso, um alô.
Tive muitos, cantei muito, vivi com eles, era pretexto para mais amizades. Tem coisa melhor a se provocar?
Fui para a minha sala, a vitrola, as capas e encartes, os detalhes, a poesia, o protesto: a voz da minha geração.
Meu primeiro show.
Assistindo à intimidade deles me vi ali. Senti de novo o sucesso, a saída de alguns, a mudança de todos.
Chorei com eles diante da morte. Encolhi meu peito ao ver o Arnaldo (eu o chamo assim, sim!) encolhido. Encolhido de dor, de saudade.
Vi uma história e fiz parte. O tempo todo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Quem protegeu Simonal?

Ninguém.
Vá lá. Assista ao documentário e me diga, quem o protegeu?
Quem é que protegia quem na ditadura?
Quem deteve a verdade?
Quem matava?
Quem apanhou e quem bateu?
Quem lutava por um ideal coletivo?
Quem pensava na música, na massa, na desgraça?
Quem pensou: opa, será mesmo que é verdade?
Quem titubeou?
Quem parou para pensar antes de mandar fazer?
Quem orientou?
Quem se posicionou em um período que tomar partido era o mais correto a se cobrar?
Quem mesmo protegeu Simonal?
Ninguém.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

20 anos depois

Os cientistas que me desculpem mas as memórias são o sentimento mais mágico que existe.
Um som, um cheiro, uma parte de um todo e pronto: lá estão as lembranças dançando na nossa mente. Lá estamos nós envolvidos, entregues.
Hoje faz 20 anos que minha mãe não está mais ao meu lado. Sempre fico com medo de um dia ela se apagar de minha mente, afinal, estou mais tempo da minha vida sem ela do que vivi com. Me pego recortando o seu rosto em meus pensamentos, atenta aos detalhes, para não deixar passar nada. Mas as coincidências que vivo cuidam disso para mim.
Como aconteceu hoje. Eu estava com minha família em mais um dos belos encontros promovidos pela Casa de Livros. Um encontro que não só posso defini-lo como delicado: a palavra delicadeza é que deveria ter isso como significado. Explico: é quando Joana e seu pai Jean Garfunkel se unem ao guitarrista - o mestre - Natan Marques e deleitam poemas e canções sempre em nome de um livro. No sarau de hoje, o tema eleito foi o mar, por causa do lançamento de Sinais de Mar, o primeiro livro de poemas de Ana Maria Machado, lançado pela Cosac Naify. A emoção que sempre me toma hoje ganhou o auge: foi ao entoar para nós a cantiga Peixe Vivo que entendi a coincidência de viver aquilo. É a minha infância a minha mãe cantando a canção para mim. Voei para o passado como um peixe desliza pelo mar, suave, acolhido, certo de seu caminho. Meu coração agradeceu.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

O amor gargalha


Quem troca olhar ganha sempre.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os chavões que nos fazem bem

Marina é uma futura psicóloga que embeleza minha família com o que tem por fora e com o que tem por dentro. É uma graça. Quando ela nasceu do amor da minha irmã pelo meu cunhado eu tinha 9 anos de idade. Aos 26, ela vive me ensinando coisas, é uma delícia.
Esses dias estávamos conversando sobre a importância do chavão que tanto falamos e pouco fazemos: quebrar o ciclo. Sabe, quando você vê uma onda negativa se formando e você, ao invés de soprá-la para longe, acaba se envolvendo nela, tropeça, fica de cabeça para baixo até que, só quando está bem tonta, põe novamente os pés no chão, para e pensa: que é que eu estou fazendo?

Acabei de viver isso agora como agente e como paciente.
E, mais uma vez, deixei o ciclo deprê ou negativo ser quebrado por um sorriso.
Sorrisos são ótimos nisso.

domingo, 26 de abril de 2009

Felicidade é...


"amassar" quem a gente ama...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um mundo pela câmera

Hoje posso ver um mundo todo pela câmera de segurança. Mesmo ela se limitando a poucos metros. Mas posso ver.
O vaivém de gente é quase um assombro. Não pela quantidade, mas pela diversidade.
Vão e voltam. Senhores, moços, velhas. Crianças, cachorros e seus donos. O portão é fechado mas a olhadela escapa: 'quem sabe posso ver algo?' pensam inconscientemente.
Fico ávida por imaginar suas histórias. Quem deles é casado, conhece Paris, experimentou saltar de paraquedas, perdeu um ente muito querido? Qual deles é advogado, tem 10 anos, adora passear no parque, acorda cedo para comprar pão quentinho na padaria?

Qual deles carrega um grande arrependimento? Qual deles já evitou uma tragédia e salvou a vida de outro? Será que heróis, vilões, mocinhos, sobreviventes, poetas, artistas, burocráticos, amantes, grandes amigos, mães, pais habitam segundos desta câmera?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O amor olha


Minha família é como as outras...
Olham
Riem
Discutem
Voltam
Abraçam-se
Despedem-se
Beijam
Seguem
Sentem
Amam

foto Ricardo Fiorotto

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Por que não escrevo tanto?

Hoje levei uma bronca de uma amiga. Diz que adora o Vivo, mas eu tenho postado pouco.
Levo broncas e broncas. E eu não sei o porquê.
Vejo histórias tantas, todos os dias, nas ruas. Há tanto o que escrever. Mas as palavras não saem assim tão facilmente de mim. Fico com elas entaladas. Para mim, escrever é quase um grito. Um alívio.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O amor


Amor é quando se dá conta de que estar ao lado dele é um privilégio.

Elliot Erwitt que fotografou...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Amarelo praia

Tem uma luz de fim de tarde de praia que tem um amarelo só dele.
Ele cai como não quer nada e atinge todo o mundo.
O senhor de xorte vermelho, a menina do biquini que combina com a saída, o rapaz correndo na pista, o menino da bicicleta nova, o cachorro que late sozinho para coisa alguma.
Esse amarelo adora combinar com azul. Principalmente se for aquele azul que mescla com o vermelho e fica lá longe, brincando de pôr linha reta no mar.
E reflete nos retrovisores, nas janelas, riscam as árvores, encontram a areia.
E a gente senta e curte. Beleza é para olhar.

domingo, 22 de março de 2009

Cada segundo vale



A tarde na Ilha do Marajó o tempo para ver a corrida, para o banho, para o riso sem motivo. Cliquei o tempo valendo cada segundo.

sábado, 21 de março de 2009

Andar na linha

Vem lá da infância esta expressão: andar na linha. Fui das meninas do tipo certinha. Estudava e adorava fazer provas, não colava, não descia do ônibus por trás – sou do tempo que o passageiro andava na mesma direção do ônibus, pra frente -, roubava romãs da casa da vizinha mas logo contava para a minha mãe, arrependida. Mas era coisa minha.
Adoro particularmente duas lembranças de infância. Uma era que, seja qual fosse o caminho que eu estivesse andando com a minha mãe, eu precisava me equilibrar em algo. Subia em todas as muretas das casas e tentava – quando a rua era calma, claro – percorrer as guias das calçadas: colocava um pé, depois o outro, quase caía, minha mãe me pegava pelas mãos. E íamos assim, conversando após à escola.
Outra era com meu cunhado. Rodávamos todo o Parque da Aclimação contornando o lago – aquele mesmo que foi sugado há algumas semanas. A gente ia se equilibrando. Dos meus olhos de criança, eu achava estar vivendo um grande perigo. Um perigo gostoso. Daqueles de criança.
Era sempre em busca do equilíbrio. Mas sempre uma andar na linha.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ah... as folhas


New Jersey, casa da minha amiga querida... março 2007

Em pouco será outono

Aguardo em sorriso a chegada da estação em que as folhas caem. A beleza delas voando nos ventos de céu aberto, luz do sol refletida nos prédios, um cheiro de ar mais puro, uma paz de dias melhores.
Adoro esse tempo de outono. Tem cara de querer sentar no banco do parque, ler um livro com aquela brisa fria levando os cabelos para trás. Tem som de criança correndo, de barulho de aro de bicicleta. Tem um azul só dele.
E as folhas caem dançando, rodopiam em coreografia, atingem os carros, você.
Como no milagre de Clarice Lispector.

domingo, 8 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Cheiros de ontem

Casa tem cheiro de quintal molhado, madeira forte, plantas do vizinho. Tem som de muitas portas, de bem-te-vi que mora mais longe, de alguém chamando do fundo.
Voltei para uma casa em que morei antes. É incrível. É o mesmo lugar e é outro. São outras histórias, todos os dias. Outra companhia, mesma sensação de lar. Alguns objetos voltaram, mas ganharam outros locais. O que eles devem estar pensando disso tudo?

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Podemos ver tudo?


Olho bem fundo, sempre à procura.
A gente faz da fotografia a gente. Olha, mira, põe em foco, clica. Corremos para o visor, mas não vamos checar se o que vimos foi registrado: vamos checar se somos nós que estamos ali.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Minha paisagem


Desta janela eu vi Ouro Preto.
Mas vi mais.
Deburaçada nela vi o cheiro do telhado molhado de chuva.
Senti o perfume do amor tocar meu rosto, em forma de vento, fazendo vez de nuvem.
Foram alguns dos tantos minutos naquela janela.
Mas a foto me trouxe ela para sempre.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Sobre despedidas

Venho me despedindo em pedaços.
Mas não aos pedaços.
Vou mudar de cenário. Minhas histórias serão contadas em outro lugar. Vou respirar outros perfumes, ver outros cheiros. Os passarinhos serão de outras árvores, os sons virão de novos lugares.
Vou rir de outros prazeres. Lamentar outras dúvidas e decisões.
Já fiz isso outras vezes. Agora tenho companhia. A casa não será apenas minha. A porta vai abrir sem que apenas eu vire a chave. Outros gostos estarão espalhados pela casa. Vou compartilhar vivências, vou viver de outras coincidências.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Ativadores de lembranças

Adoro curtir os momentos que hoje chamo de Ratatouille. Quem assistiu a esta maravilha da parceria Disney Pixar, vai entender sobre o que estou falando. É quando um cheiro, um sabor, uma música, um pedaço de cena provoca uma lembrança forte e um prazer.
Cada vez que entrou na Starbucks, vou imediatamente aos meus minutos preciosos em Nova York e, não são apenas as maravilhas da cidade que me vêm à minha mente. O sentimento de liberdade vem junto e tudo o que significou a viagem para mim. Tudo que me aconteceu por dentro, tudo que mudou.
A música é um dos meios mais fortes de provocar isso em mim. Acontece o tempo todo. Outro dia foi com Elton John, com a canção Guess That's Why They Call It The Blues. Sempre soube que ela me lembrava a adolescência, quando eu adorava chorar por mil paixões ao mesmo tempo.

Mas neste dia, eu estava dirigindo e a ouvi no rádio. E fui levada imediatamente à cena de um bailinho, aos 11 anos, à espera de ser convidada para dançar. Foi forte e rápido.
E quem diz que a gente não pode viajar no tempo se fazemos isso o tempo todo?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Está lá fora

Na minha cozinha há um vitrô que, mesmo um pouco estreito, permite que eu olhe por ele. Como dá para as costas do meu prédio, consigo ver pouco mais do que uma fileira de telhados, alguns prédios, varais.
Vez ou outra, tenho a sorte de ver passarinhos.
Aconteceu ontem. Um bem-te-vi foi enfeitar as antenas de TV.
Muitas pessoas reclamam que em São Paulo não vemos mais nada além de prédios e de tons de cinzas.
Mas será mesmo que elas olham pela janela?