quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

De passagens



Desde criança - mais precisamente quando comecei a entender o que poderia significar a palavra "esperança" -, sinto um frio na barriga todo 31 de dezembro.
A gente coloca tudo nele: as lembranças boas e ruins do ano que termina, os sonhos e desejos do ano que vai começar. Quando está junto de outras pessoas, você aposta isso no coração delas também. E pensa, vibra, torce por todos que ama.
Por tudo isso acho esse ritual mais do que necessário. O que seria da gente se não conseguíssemos sonhar nem que por uns minutos? Suspirar fundo, estampar um sorrisão e abraçar forte esta esperança que somos capazes de alterar a vida. Somos deuses de nós mesmos, ora.
E temos mais é que aproveitar.
Feliz ano novo, sempre!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Qual a sua história?

Há uma coisa muito maluca que acontece em família. Não sei se é culpa da genética ou convivência. Muitas vezes eu falo alguma coisa e ouço a voz da minha mãe saindo dentro de mim. Nenhuma referência paranormal ou mediúnica ou o nome que for. É bem física mesmo: a minha voz se torna a voz dela. O mesmo acontece em relação a minha irmã. Às vezes acho que me mexo como ela, meu jeito de deitar no sofá, cruzar as pernas, passar a mão no cabelo. Claro que a gente tem que se conhecer de cor para perceber isso. E é sutil. Sutil como é a influência da convivência. Sutil como é o afeto. Sutil como é esse imitar sem querer. A gente vai se copiando e mantendo os laços, revivendo os outros dentro da gente. Temos uma história, afinal.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Hoje o tempo vai permanecer bom...


Essa nossa mania de adjetivar tudo ou dividir entre bom e ruim às vezes nos dá umas situações bem curiosas. Acabo de ler o "chapéu (é um nome que damos no jornalismo para as palavras que ficam acima da chamada principal, da manchete de um jornal, site, revista, etc)" no UOL que está escrito MAU TEMPO. Sim, o tempo é mau. Nós estamos nesse dia maluco aqui na cidade de São Paulo porque o tempo é que é mau. Não o jeito que soltamos poluentes no ar, a forma que maltratamos o restante da natureza. Não porque nossos governantes acham que tudo bem as pessoas viverem em barracos que podem desabar em terra a qualquer momento.
O tempo é mau.
E, nós, somos bonzinhos é?
Que Copenhagen nos ouça, nos veja...

foto de Luiz Guarnieri, publicada no site UOL

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Olhem meu sabiá!!


Fiz um conto para a CRESCER de novembro e vocês podem ver esse sabiá especial no site.
Esta ilustração é de Kleber Bellatto.

A Menina que o Sabiá Seguia

Ele a acompanha desde a infância.
É o primeiro som que ela escutava da rua.
Tem jeito de paz, cheiro de lembrança.
Se conhecem dos tempos de infância.
Ele estava lá no caminho dela da escola, nas manhãs.

Voava a seu lado na volta para casa.
Nos passeios ele também estava lá.

Com a mãe, ela sentava na grama do parque, jogava pão para os peixes.

Ele ficava fitando-a na sua grande aventura de ir até
à beira do lago, imaginar um quase-cai, um quase-perigo.

O sabiá adorava veramenina em plena felicidade.
Tinha tempos que ele sumia de seus ouvidos.



Mas chegava setembro e ele estava de volta,
pronto para anunciar o sol, dar bom-dia.

Ela cresceu e ele imaginou que seria difícil acompanhá-la.
Que nada.


Ela morou em casas diferentes, viveu outras
histórias e, por um tempo, ele sumiu de novo.
Mas voltou no setembro e ficou com
ela nas manhãs e nos passeios.
É o primeiro som que ela escuta da rua

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Vem que tem Simonal!


"Eram duas horas da manhã de 23 de fevereiro quando doutor Roberto Simonard e aquela pequena plateia de anestesistas e enfermeiros ouviram pela primeira vez a voz de Wilson Simonal, do alto de seus impressionantes quatro quilos e duzentos gramas".

Parece apenas uma descrição simples mais amei o jeito de colocar as palavras, do brincar de sentidos, do frio na barriga provocado pelo jornalista Ricardo Alexandre, nas primeiras páginas de Nem Vem Que Não Tem - A vida e o veneno de Wilson Simonal, que a Editora Globo lançou mês passado.

Eu adoro histórias, seja em biografias em livros, documentários ou longa-metragens, seja num bate-papo com colegas. Adoro saber quando Tom conheceu Vinicius, que Paul e George iam juntos para a escola, que Tolkien adorava bater papo no Lamb and the Flag em Oxford. Adoro saber como tudo começou, que rumo tomou e porquês. Adoro porquês.

E, ainda bem no começo por total falta de tempo, estou me deliciando com a história de uma das maiores polêmicas de nossa música. E é tão maluco ler boas biografias, porque você sabe o 'final', mas envolve-se tanto com o início que meio que aguarda uma surpresa, uma alteração na história com jeito de H maiúsculo. Talvez me venham novos porquês. Tomara.