sexta-feira, 5 de junho de 2009

Poesia e criança, por Ana Maria Machado


Raul da Ferrugem Azul é o livro que mais lembro da minha infância. Ana Maria Machado conta a história de um menino que começou a se surpreender com bolas azuis pelo corpo e fica apavorado. E, depois, começa a entender que elas aparecem conforme ele "engole" as injustiças da vida... Aquilo, acredito que em meus oito anos, me pegava concretamente. Quando via uma amiga minha sendo vítima de preconceito racial, lá ia eu olhar para o meu braço e ver se eu tinha aquele "sarampo azul" que minha mãe tentava me explicar.

Ana Maria plantou em mim a semente da solidariedade e, como ela diz, não é dizer a palavra que vai atingir o leitor-criança e sim, uma história bem contada. Era um tempo em que escrever para criança sinalizava como algum tipo de esperança em um país que parecia estar condenado.

Pois eu tive uma excelente, animada e emocionante conversa com ela para o site CRESCER.

Vale muito a pena, pois falamos de poesia, em virtude do livro que ela acaba de lançar, Sinais do Mar, pela Editora Cosac Naify.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Me perdi com os Titãs

Eles me levaram longe. O documentário Titãs A Vida Até Parece uma Festa é, sim, com cenas gravadas na intimidade da banda.
Mas eu estava ali.
Em frente à televisão de sábado tentando entender aquele mexer de oito corpos. No gargarejo dos shows, cantando todas as letras, fugindo dos mais exaltados em Polícia.
Eu estava ali com minhas amigas à porta do camarim, à espera de um sorriso, um alô.
Tive muitos, cantei muito, vivi com eles, era pretexto para mais amizades. Tem coisa melhor a se provocar?
Fui para a minha sala, a vitrola, as capas e encartes, os detalhes, a poesia, o protesto: a voz da minha geração.
Meu primeiro show.
Assistindo à intimidade deles me vi ali. Senti de novo o sucesso, a saída de alguns, a mudança de todos.
Chorei com eles diante da morte. Encolhi meu peito ao ver o Arnaldo (eu o chamo assim, sim!) encolhido. Encolhido de dor, de saudade.
Vi uma história e fiz parte. O tempo todo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Quem protegeu Simonal?

Ninguém.
Vá lá. Assista ao documentário e me diga, quem o protegeu?
Quem é que protegia quem na ditadura?
Quem deteve a verdade?
Quem matava?
Quem apanhou e quem bateu?
Quem lutava por um ideal coletivo?
Quem pensava na música, na massa, na desgraça?
Quem pensou: opa, será mesmo que é verdade?
Quem titubeou?
Quem parou para pensar antes de mandar fazer?
Quem orientou?
Quem se posicionou em um período que tomar partido era o mais correto a se cobrar?
Quem mesmo protegeu Simonal?
Ninguém.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

20 anos depois

Os cientistas que me desculpem mas as memórias são o sentimento mais mágico que existe.
Um som, um cheiro, uma parte de um todo e pronto: lá estão as lembranças dançando na nossa mente. Lá estamos nós envolvidos, entregues.
Hoje faz 20 anos que minha mãe não está mais ao meu lado. Sempre fico com medo de um dia ela se apagar de minha mente, afinal, estou mais tempo da minha vida sem ela do que vivi com. Me pego recortando o seu rosto em meus pensamentos, atenta aos detalhes, para não deixar passar nada. Mas as coincidências que vivo cuidam disso para mim.
Como aconteceu hoje. Eu estava com minha família em mais um dos belos encontros promovidos pela Casa de Livros. Um encontro que não só posso defini-lo como delicado: a palavra delicadeza é que deveria ter isso como significado. Explico: é quando Joana e seu pai Jean Garfunkel se unem ao guitarrista - o mestre - Natan Marques e deleitam poemas e canções sempre em nome de um livro. No sarau de hoje, o tema eleito foi o mar, por causa do lançamento de Sinais de Mar, o primeiro livro de poemas de Ana Maria Machado, lançado pela Cosac Naify. A emoção que sempre me toma hoje ganhou o auge: foi ao entoar para nós a cantiga Peixe Vivo que entendi a coincidência de viver aquilo. É a minha infância a minha mãe cantando a canção para mim. Voei para o passado como um peixe desliza pelo mar, suave, acolhido, certo de seu caminho. Meu coração agradeceu.