segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ser livre

Eu posso. Posso ir ao lugar que quiser. Posso comer o que me dá vontade. Posso chegar tarde, não arrumar a cama. Posso deixar a louça para lavar no dia seguinte, ir ao cinema sozinha.
Posso tantas coisas.
Mas sobre a minha vida, o que posso?
Que liberdade tenho sobre ela? Que liberdade tenho sobre quereres?
Toda.
É o que me dizem. "A vida é sua, ora".
Eu quero. Quero ir à Europa no ano que vem. Quero ver minha amiga de novo. Quero acordar tarde, passar o ano-novo com meus amigos. Quero me entregar ao novo amor. Quero ler o livro da Clarice. Quero comer brigadeiro com bolacha. Quero ir fotografar no Jardim Botânico.
Quero e posso. Quero poder na hora que bem entender. Para poder querer sempre que possível. Mas viver é estar diante de condições. Como resolver?

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Alice Ruiz...

Que importa o sentido
se tudo vibra?

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Feliz é coisa para se querer ser?

E não é louco descobrir que para se sentir feliz você precisa querer? Se não, a gente se envolve em nós mesmos, traz outros para companhia, mergulha tão fundo que acaba achando que melancolia é vantagem.
Olha que perigo. Sorriso é uma das palavras que mais gosto. E, se você não se cuidar, pronto, não sai mais. Pior: você não vê o dos outros.
Criança não tem nada disso. Quando vê, sorriu. E sem querer. Para ela, felicidade não é desejo. Então, sorri.
Mas alguns adultos, não. Acha que sorrir e se sentir feliz é motivo para se culpar. E vai embora neste novelo deprê, desenrolando e se enrolando, num emaranhado que a gente não vê mais nem o começo, nem o fim.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

As Clarices da gente...

Quando eu fui à exposição sobre Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa não me faltaram inquietações. E não foi somente por ela e pelas palavras que ela escolheu pela vida.
Eu achei tumultuado, um tanto claustrofóbico. Acho que eram as frases dela gigantes que iam me engolindo, eu perdi o ar.
E na hora das gavetas, confesso: acho que fiquei com ciúmes. Que história era aquela de todo o mundo ficar abrindo as gavetas da Clarice? Para mim, que mais pareço protegê-la do que realmente ler seus livros, fiquei incomodada. Eu quis mais foi correr para casa e me abraçar aos livros dela. Ter a minha Clarice de volta. Ler tudo que - por sorte - ainda me resta ler dela.
Eu tenho uma grande amiga que me ensinou muito sobre o escrever. Ela tem um blog há muitos anos, chama-se Idéia Fixa.
E hoje li dela uma verdadeira maravilha. Um ir e vir. Um sentir maravilhoso sobre Clarice. Um mergulho profundo em todos nós. Todos que nos deixamos levar por ela, nos envolvemos com ela.
Copio aqui, Clarice por Simone Paulino.

Clarice Lispector.

O nome é em si um estilhaço. Sonoridade pontiaguda que penetra fundo no ouvido-alma da gente. Clarice. Clarice é perfurante. Entranha-se no reino das palavras e diz soberba: Tenho as chaves! Clarice é quase um verbo. Se eu Clarice. Se tu Clarices. Como seria o mundo se todos nós Clarícemos? Mas Clarice está em mim de um modo imperfeito. Se eu Clarice era só uma possibilidade remota que não se completou. Então trago Clarice para o presente e ela me atinge qual lâmina afiada e transforma tudo à minha volta em fragmento. Não consigo ler seus textos inteiros. Por isso, vou aos poucos. Recolho aqui e ali uma parte. Clarice, metonímia pura.

Perguntei a Clarice como é a vida após a morte. Clarice, escorregadia, me inquiriu: Que importa o futuro do pretérito? O instante, só o instante conta. Entenda, enquanto é presente! Esse mesmo, translúcido, que ao pensares nele já te escapa. Agarra-te a ele. Prenda-o em ti. É o que tens por hora, e é muito, creia-me. Pedi uma resposta e Clarice me devolveu perguntas. Será isso? Viver, uma infinita pergunta? Um consulta interminável a um dicionário com sucessivos verbetes remissivos? De onde? Para onde? Por quê? Por quanto tempo? Tempo? Que é o tempo? Se não me perguntam o que seja o tempo, sei. Mas se me perguntam, onde a resposta? Não há respostas, meu Deus, é isso? Deus? Tenho febre de estar viva, e ela me consome, por quê? Será a existência um eterno delírio, por quê? A chuva lavou a cidade e não refrescou meu espírito, por quê? Tenho uma mesa farta e sinto fome, por quê? O espelho não reflete minha alma, por quê? Cada pergunta é um caco de Clarice que penetrou na pele porosa do meu pensamento. As ruas se cobrem de flores amarelas e roxas e isso me inquieta, por quê? A morte é roxa e a vida, amarela, e a cada quarteirão elas se alternam. Sim, seria uma resposta. Mas é belo o roxo alternado com o amarelo. E há um sopro que às vezes mistura tudo numa cor indefinida e vaga. Tese, antítese, síntese. É isso, a vida? Queria ir além, lá no mais-longe, no indescoberto rumo, bem perto do centro estreito onde nascem as palavras que fundam o mundo. Mas eu, Simone. Se eu Clarice...

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Poesia na cozinha...

Não, não é samba.
Hoje eu estava lembrando da minha mãe, como ela se divertia na cozinha. Primeiro, só cozinhava cantando. Sempre. Segundo, ria demais das coisas da culinária que não davam certo. Achava graça daquela clássica cena do leite derramando após ferver. Rolava de rir quando abria o forno e encontrava uma série de suspiros desmilinguidos. Também, acho que era a única coisa que ela não sabia fazer.
Ao contrário de mim, a minha irmã herdou este talento. Tudo que faz fica maravilhoso. Apesar de curtir seus momentos Ofélia, tem uma relação de amor e ódio com o fogão. Mas, sabemos, adora fazer a gente sorrir de satisfação em volta da mesa.
Ontem foi um dia especial. Ela preparou uma de suas delícias, o pão de minuto. Eu tinha de levar para a redação para uma foto na seção de culinária para crianças. Pois vivi o que não vivia havia anos: fiquei na pia com ela nos preparativos do pão, meu irmão puxou uma cadeira e nós ficamos ali, os três, rindo como em varanda de casa de interior. Era pura poesia de cozinha, com cor amarelo-gema, sabor de farinha e cheiro de queijo.
O pão de minuto ficou gravado na nossa memória. Aquela que o tempo não apaga, não termina. são estes encontros que fazem da vida um eterno valer a pena, não?

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Por que escrever?

Engraçado que fiz este blog porque o que eu escrevia já não estava mais cabendo em mim. Queria espalhar para o mundo. Mundo.
Mas aí me pego esquecendo dele. Meu último post tem 10 dias. Eles vão se distanciando, como a voz do professor na aula chata, quando a gente já está pegando no sono de tédio.
E por que será que isso acontece? Por que escrever tem tantas escritas?
Escrevo todos os dias quase o dia todo. Mas são funções a cumprir, mensagens diretas. Tem também os emails pessoais, as conversas de MSN, os recados no Orkut.
Mas sempre tem alguém que me pergunta "e aí, cris, você tem escrito?". Mas esta é uma outra escrita. A que não tem função.
A que você emociona sem saber, se revela querendo esconder.
É aquela que te solta a angústia, explode a felicidade, te arranca um sorriso, uma dor.
E é uma delícia, mesmo que só de vez em quando.
É livre.
É por isso que escrevo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Um dia sem carro

Não, não vou falar da campanha mundial que mais parecia dizer o contrário, de tanto carro que foi para rua naquele dia.
É que uma circunstância - ou coincidência? - me deixou sem carro e é impressionante como a gente passa pelos mesmos lugares e vê tudo diferente.
Vi borboletas, placas com erros de português, as conversas das pessoas. Porque a comodidade que o carro traz é maravilhosa, mas a gente fica sozinha. No ônibus há os incômodos, mas tem a companhia, ou a sensação de. O individualismo fica de lado, a gente simboliza melhor o coletivo.
E voltei a ver as pessoas, como elas aparentam ser, imagino a história de cada uma, vejo-as conversando, trocando informações, alguma gentilezas, ou o estresse que faz com que tantos passem por tantos sem se olhar.
Observar a vida é uma delícia.
Outro dia, parada no farol (isso dentro do carro mesmo), eu vi o que parecia um pai e filho atravessando a Avenida Paulista. Imagine uma frase assim: "Se a gente pode pular, porque vamos só andar?". Foi o que eu vi. O adulto incentivou a criança a experienciar um jeito diferente de atravessar a rua. E era difícil ver quem estava se divertindo mais...