terça-feira, 25 de setembro de 2007

Elocubrando...

Nossa, que dia é esse que começa com Nietszche e termina com um pedido de desculpas? É incrível como em alguns dias parece que a metáfora dá um descanso e nós abraçamos ao concreto em um tom de realidade nunca jamais sentido.
Vão caindo as máscaras, os disfarces, vão surgindo os desejos, as vontades. A força de viver, de começar um mundo. Ontem um querido amigo me disse "Cris, vai pro mundo. Não aja como se estivesse no fim". E a coisa tá tão pesada que me apego à filosofia de propaganda de carro: "não deixe a vida acontecer sem você!". Tem coisa mais maluca que esta?

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Na mesma toada ou vivendo coincidências?

Nestes meus dias melancólicos, olhem o que acabo de aprender com Ziraldo:

" Triste "

Eu hoje acordei triste,
- há certos diasem que sinto esta mesma sensação...
E não sei explicar,
qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias ...
E pergunto a mim mesmo:
- tu não rias
ainda ontem tão feliz ...
diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias ? ...
E, nem eu sei dizer por que estou triste ...
Quem me olha não calcula com certeza,
o imenso caos que no meu peito existe ...
A tristeza que eu sinto ninguém vê...
- E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê !...

( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"Vol. I - 1a edição 1965 )

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Solidão, que nada...

Tô meio "mordida" esses dias... e ouvindo Cazuza e Barão adoidado, já viu...

"E tudo que eu tentei fazer
pra te ver mais feliz
e tudo que eu tentei esquecer
eu fiz também por mim"
Cara a Cara, último disco do Barão

"Eu quero a sorte de um amor tranquilo com gosto de fruta mordida",
Cazuza

"O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver
Não pode ver que no meu mundo
Um troço qualquer morreu
Num corte lento e profundo
Entre você e eu
O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba, a gente pensa
Que ele nunca existiu"

Enfim...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

O menino da bolinha de gude

Todos os dias, eu aguardava a chegada dele. Ele vinha correndo da rua, com uma mochila nas costas e entrava em casa. O pai sempre dizia:- Lave as mãos e venha almoçar!E ele lavava, depois sentava à mesa, almoçava pra valer, escovava os dentes e - ufa! - vinha depressa ao meu encontro.
Estava sempre à sua espera, parada em um dos pequeninos buracos formados pela areia que cobria a parte de fora da casa. Era uma delícia! Ele examinava as formas no chão e começava o jogo! Nas mãos dele, eu e minhas colegas voávamos pelo quintal. Ele me colocava no dedo polegar, eu ia de encontro às outras e iuuuuuuuuuuuuupiiiiiiii: a cada batida, caíamos às gargalhadas, em pura diversão.E assim a gente brincava por horas e horas.
Havia dias em que dávamos um passeio. E era muito especial. O menino colocava cada uma de nós em seu bolso e íamos lá dentro, batendo umas nas outras, morrendo de rir. De vez em quando ele procurava a gente, só com as mãos: acho que para saber se a gente não havia fugido... Fazia um carinho, daqueles que dão cócegas...
No caminho, a gente sempre ouvia a conversa dele com o pai. Ele perguntava sobre o nome dos pássaros, suas cores e seus cantos. Quem sabe, de tanto ouvir, ele não acabaria decorando tudo? Queria ser como o pai: ouvir um pio e já dizer que pássaro era!
Nesses passeios, não era só passarinho que ele via, não. Às vezes, o pai o levava para andar de barco. O menino se encostava na ponta da embarcação e apreciava tudo o que via: o balanço do rio, o reflexo da mata nas águas, as crianças brincando na beira. Ao longe,ele avistava umas borboletas azuis, típicas do lugar que ele vivia. Ficavam aqueles pontos luminosos, colorindo a floresta. Dava a impressão que a natureza brincava com ele. O garoto olhava, olhava, olhava... parecia que a paisagem não tinha fim. Dava um suspiro bem profundo e sonhava em ver aquilo para sempre.
Quando a gente chegava em casa, ele nos tirava do bolso, brincava mais um poucoe ia para o quarto. Passava um tantão de horas mergulhado nos livros. Sonhava em ser escritor.Dizer para o mundo todo o que ele via todos os dias: a vida vivendo.

publicado na Revista Crescer em março de 2007

domingo, 9 de setembro de 2007

Como se a mede a vida?

Se é uma coisa que ser humano faz e procura são medidas. Somos fanáticos por números, estatísticas, rótulos.
Venho pensando isso. E em como isso é necessário, mas nos afasta da experiência. Ou de percebê-la. Lembrei do poeta Bartolomeu, de novo, dizendo estar farto de certas atitudes na escola e à espera de um dia ela querer medir qual criança é mais feliz no recreio.
Agora começo a assistir a um musical americano chamado Rent, de Jonathan Larson, nos anos 90. Eu me envolvi com sua história quando minha amiga Jana Bianchi, uma fabulosa cantora, fez parte de um projeto em São Paulo que apresentou vários esquetes de sucessos da Broadway e que, de certa forma, deu início a esta série de versões brasileiras. Rent foi encenado por ela em português. E há 2 anos ganhou uma versão nos cinemas.
No cotidiano frio de Nova York, fala de amizade, drogas, vida sem limites, sexo e, claro, da chegada da AIDS que, com uma espécie de "dedo no nariz" de todos veio moralizar a vida e esconder mais uma vez os novos olhares anunciados.

Inicia com uma canção que adoro: Seasons of Love. Me faz, claro, lembrar dos amigos que vivem e viveram com esta síndrome que tudo coloca à prova. E me faz lembrar a vida, o jeito que a conheço e reconheço. Será isso mesmo?

525,600 minutes, 525,000 moments so dear.
525,600 minutes - how do you measure, measure a year?
In daylights, in sunsets, in midnights, in cups of coffee.
In inches, in miles, in laughter, in strife.
In 525,600 minutes - how do you measure a year in the life?

How about love? How about love? How about love? Measure in love. Seasons of love.

525,600 minutes! 525,000 journeys to plan.
525,600 minutes - how can you measure the life of a woman or man?
In truths that she learned, or in times that he cried.
In bridges he burned, or the way that she died.
It’s time now to sing out, tho the story never ends let's celebrate remember a year in the life of friends.

Remember the love! Remember the love! Remember the love! Measure in love.

Seasons of love! Seasons of love.