quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Estou com vergonha, Zilda Arns


A morte de uma das pediatras mais amorosas que o planeta já abrigou me encheu de vergonha.
Não só por isso ter acontecido numa cidade devastada pela desumanidade de séculos.
Não só por ela estar lá naquele momento com um coração repleto de boas intenções e esperança, numa terra que não sabe dar amanhãs aos seus residentes.
Mas porque ela morreu com uma vida de missão mais do que cumprida. Ela valeu sua existência, ela usou essa chance de vida ao extremo. Acreditou, bolou, conseguiu.
Fico com vergonha de não fazer nada por ninguém tão significativo assim.
Vergonha de não aproveitar a chance do jeito dela.
Vergonha de olhar para ela e ser somente eu mesma.
Estou com orgulho de você, Zilda Arns. Mas com vergonha também.
Fique bem.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Notícia de vida...

Imagine um jornal televisivo começando assim.
"Boa noite. Cinco milhões e 970 mil pessoas sobreviveram essa noite na pequena cidade de Santana dos Misericórdios. Os moradores acordaram felizes e seguiram para mais um dia de vida".
Parece meio maluco, mas eu tive essa pequena viagem em minha mente após ouvir da voz de Mônica Poker, na rádio CBN, uma notícia de que um policial do Copom havia ajudado um pai e uma mãe a salvar o filho de 1 ano de idade, por telefone. O destaque, claro, era a forma: os pais ouviram as instruções do especialista pelo telefone e, enquanto uma viatura ia para a casa da família, eles conseguiram salvar o filho de uma parada cardiorrespiratória.
Uma notícia linda e o mais lindo mesmo foi ter virado notícia. Em meio a tantas mortes acontecendo nesta virada de ano, seja nas enchentes, deslizamentos ou seja na imprudência acontecida nas estradas, uma notícia de vida. Sim, alguém sobreviveu e isso foi uma coisa tão importante, digna de ser noticiada.
E eu fiquei feliz de ter ouvido. E pensei o quanto aquele clichê de 'vamos agradecer por estarmos vivos' deveria ser aplicado mais vezes.
Hoje estou feliz por estar viva.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sustenbilida... o quê?


Eu também sou aquela que passou a separar o lixo e reparar mais no dia a dia consumista tardiamente. Se bem que minha mãe nunca me deixou desperdiçar água e não era simplesmente para pagar menos a conta: ela tinha lá uma consciência de que isso poderia dar errado no futuro. Acho que era uma apaixonada por água mesmo.
Por mais que eu pense e tenha as tais atitudes ecologicamente corretas, não tenho nem por que me gabar. Se isso que faço é o mínimo que eu poderia estar fazendo pelo planeta, então eu nem vou contar para muita gente (tudo bem que isso aqui é um blog, mas...), ou eu nem vou ficar falando que sou o máximo por isso.

Meu ponto é uma ótima entrevista que acabo de ler na Folha de S. Paulo:
Para especialista, nova classe C ignora sustentabilidade
Fábio Mariano, da ESPM, diz, porém, ser absurdo que empresas repassem custo verde a consumidor

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais da metade dos brasileiros já fazem parte da classe C, que engloba famílias com rendas mensais entre R$ 1.000 e R$ 4.500, aproximadamente. Em seis anos, 20 milhões subiram para esta faixa -e o fluxo continua. É gente descobrindo como é bom consumir, mas que não se preocupa muito com o planeta, diz Fábio Mariano, professor da ESPM e sócio da consultoria de comportamento do consumidor InSearch.



FOLHA - A classe C pensa em consumo responsável ou só quer preço?
FÁBIO MARIANO - Ninguém se importa só com o preço. A classe C, por exemplo, vai ver quanto os eletrodomésticos consomem de energia. Mas porque ela está preocupada com a carteira, não com o mundo.

FOLHA - Então a nova classe média não quer saber, digamos, se a carne que compra vem da Amazônia?
MARIANO - Estas pessoas, que até 2000 chamávamos de excluídos, agora estão ganhando uma grana legal para fazer a festa no shopping. E há também o grande boom, que é a expansão do crédito. Mas só isso não adianta. A educação que recebem não está melhor. E precisa ter um certo aparelhamento pessoal para entender o conceito de sustentabilidade.

FOLHA - Mas os mais instruídos pagam mais por produtos verdes?
MARIANO - A classe alta até paga um pouco mais por produtos que favoreçam a sustentabilidade, mas ainda é pouco. Mesmo porque não existem muitos produtos assim no mercado. Você consegue citar dez? E, quando existem, a distribuição é restrita, não é algo disponível para as pessoas da classe C. Vai querer que peguem o ônibus para ir comprar no bairro rico?

FOLHA - Você não considera justo que o custo da sustentabilidade sobre para o consumidor, então.
MARIANO - Não. Repassar o custo da sustentabilidade é absurdo. Essa imagem de que o consumidor que quer pagar mais é consciente, enquanto o que não quer é um assassino que pretende acabar com o mundo... Vocês deliraram, né?

FOLHA - Poucos consumidores parecem pressionar as empresas...
MARIANO - Só os mais esclarecidos. Porque o consumidor tem um monte de problemas. Tem câncer, Aids, é chifrado, tem de pagar a escola do filho. Vai ter que se preocupar também com salvar o mundo quando a esposa está precisando de um medicamento? Querer que o consumidor, além de tudo, pague cinco reais numa ecobag no supermercado? Empresa que cobra ecobag não tem vergonha.


Eu adorei isso. A gente não tem a menor noção do que está pregando. Ao invés de criticar e olhar feio para o desperdício dos outros, temos é que fazer mais. Pegar nossa culpa de quem tinha a informação, de quem curtiu à beça o lançamentos dos descartáveis, etc e que agora resolveu fazer algo e continuar a viver assim até que isso seja tão natural que este post fique completamente obsoleto.
Isso é o que eu desejo para o ano que começa e os outros que ainda virão: menos dedo no nariz dos outros e mais consciência.
Não podemos deixar tudo nas "mãos" do Wall-E, não?