segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Generosidade e dualidade

E ela teve de se dividir em duas. Uma se prestava à generosidade sem espera de trocas, sem economizar sorrisos, sem esforço, natural.
A outra, surgiu mais dura e áspera, para que sua parte generosa não se perdesse na ingratidão dos outros.
Tenho como falar sobre o assunto sem ser brega ou até cair no ridículo?
Tenho.
Aprendi isso após assistir A Alma Boa de Setsuan, com a querida Denise Fraga, no Teatro Renaissence. No texto de Brecht, ela e elenco desfilam aos nossos olhos idas e vindas, trapalhadas, tentativas, acertos, enganos, voltas-atrás, amores, amizade. Assim como é nossa vida. Com histórias de perdas e injustiças muito bem representadas e identificáveis, da platéia saí com esperança. E, esperança, como sabem, é uma escolha: ela está sempre ali, pronta para nos dar a mão. Mas, por vezes, insistimos em olhar o outro lado, acharmos que devemos ser forte, que ser enganado é sinal de fraqueza.
Mas não é. Ô, se não é.
E foi o que vi ali. É o que vejo em cada sorriso de criança, em cada “obrigado” na padaria, a cada novo amigo feito, a cada reencontro com antigas e boas memórias. É renovação pura. De quem, sim, às vezes tem de se dividir em duas ou mais para dar conta de si mesma. Mas que adora ver na poesia e na literatura o motivo para generosizar por aí. E não só nos textos. Na poesia e na literatura que vemos todos os dias, nas ruas, nos desconhecidos e nos nossos. E viva a pieguice.

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