terça-feira, 20 de maio de 2008

Vamos sonhar, papai?

Quando eu era menor, e precisava ter sono na hora de dormir - sabe que, com criança, isso é mais terrível ainda, né? - eu deitava na cama, fechava os olhos e começava girar imagens na minha cabeça.
Eu girava mesmo. E uma entrava no meio da outra, mudava de forma, pegava emprestada a cor de outra, devolvia.
Tinha uns riscos, como quando a gente consegue fotografar o movimento da luz, sabe?
Lembrei disso por causa de uma brincadeira. De dois amigos meus, pai e filho.
Eles estavam brincando de sonhar.
Era mais ou menos assim:
- Pai, eu posso escolher meu sonho. É assim: primeiro, feche os olhos. Bem fechados. Depois, deite a cabeça. Aconchegue-se no travesseiro. Mas tem que ser bem gostoso, pai! Agora vai lá e procura, pai! Procura mais. Achou?
O pai ajuda:
- E se a gente lembrasse da praia? Da gente correndo para a água, sentindo ela fria entrar pelos nossos pés. E depois quando corremos na areia, ela gruda na gente por causa do molhado. Dá aquela coisa áspera, a gente quer tirar, mas é gostoso ter.
O menino abre os olhos.
- Pai! Corre comigo, vamos sonhar!

3 comentários:

Eduardo disse...

Ah, saudade de um tempo que não volta mais. Ser criança novamente. Só em nova encarnação, mas aí não há lembrança do passado, não dá para ter saudades.Aliás a saudade é um tipo de apego e todo apego é um obstáculo. Precisamos nos livrar dos obstáculos para nosso crescimento. Precismos soltar nossas amarras.

Petê Rissatti disse...

Que coisa bonitinha de se ler, Cris. Deu até saudade...

Beijo

Ana Cristina Melo disse...

São laços de fantasias, ou fantasias que criam laços em nós?

Cresci aprendendo a sonhar acordada. Quando não tinha sono, fechava os olhos e sonhava antes de dormir.

Seu texto é lindo!
Parabéns!
Bjs
Ana Cristina