domingo, 6 de janeiro de 2008

Pais ausentes, drogas mais do que presentes?

Sei que é começo de ano e a gente quer mais é conversar sobre assuntos leves. Mas é que assisti ao filme Meu Nome Não é Johnny, bem protagonizado por Selton Mello que interpreta um garoto de classe média do Rio, João Guilherme Estrella, um dos maiores traficantes de drogas do Rio de Janeiro nos anos 90. A história é verídica e o filme de Mauro Lima é baseado na biografia assinada por Guilherme Fiúza.
Falo do filme aqui não apenas porque vale como entretenimento. Mas pelas discussões morais, filosóficas – criminais até – que o filme expõe, já bem exploradas em Tropa de Elite e Cidade de Deus. Ele vai por um outro viés que é importante para todos, todos aqueles que acham que criar um filho é tarefa importante, dá trabalho e merece toda a atenção.
É neste aspecto que discordo de uma parte do texto do crítico de cinema da Folha, Ricardo Calil, que bem mencionou a interessante abordagem: “no lugar do costumeiro criminoso pobre, negro e de família desestruturada, o filme nos apresenta um traficante branco, de classe média, morador da zona sul carioca e filho de pais amorosos”. É este “pais amorosos” que questiono. Não li o livro e nem falei com Estrella, mas pelo que o filme apresenta, trata-se de pais ausentes, isto sim. E pais ausentes não podem ser disfarçados de “pais amorosos”. Sorrir e ser permissivo pode ser algo bem diferente de amor, ou um tipo de amor que os filhos não precisem.
Isto se dá claramente no desinteresse do pai de João pelas baladas pesadas que acontecem quase literalmente embaixo de seu nariz (no andar debaixo de sua casa, onde ele permite que o filho faça o que quiser). Também fica bem exposto quando a mãe ganha um colar caro do filho, sorri e, quando perguntada sobre a profissão de João ela diz apenas “não sei, algo no ramo de vendas”, engolindo toda a hipocrisia de uma mulher que simplesmente “deixou a vida do filho acontecer”, parte do discurso emocionante que ele faz no tribunal para assumir que, no fundo, fazia tudo para manter o vício.
Mas, como bem escreveu o psicanalista Contardo Calligaris em sua coluna dia 3 de janeiro no mesmo jornal, o filme permite uma esticada na discussão. Meu Nome Não É Johnny fala de uma relação entre pais e filho que vai além do clichê "pais permissivos" facilitam que a sua "criança" sem limites se meta em encrencas como o excesso de drogas.
Diante de pais que - cada um por seu motivo - meio que desistiram de continuar vivendo, apostam no filho uma liberdade de escolhas, de experiências, projetando nele uma vida que não podem mais ter. Ou que acreditam que não mais possam ter. E quem não vê limites para a felicidade dos filhos, pode não ver limites para tantas outras coisas...

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