sábado, 1 de maio de 2010

Que texto sou eu?


"... o texto que hoje eu sou". Não sei se foi um ato falho ou coisa do tipo, mas foi esta frase que me mais me marcou do excelente encontro que ontem a equipe com quem trabalho na Crescer teve com o jornalista Moisés Rabinovich. Ele foi contar suas histórias e falava de como ele e seu texto foram construídos em sua carreira. E por que o texto "É" ele? Por que é isso que acontece, ou deve nos acontecer: o texto de um jornalista deve nos acontecer.
O bate-papo, claro, foi permeado pela busca de um bom texto hoje. Ao falar da sua experiência como fundador do Jornal da Tarde, ele me jogou à final de infância e adolescência, quando este jornal habitava todos os dias a mesa de jantar da sala, todas as manhãs. Meu pai lia o JT e eu fui me interessando também. Não se naquela época ou somente depois, mas eu adorava os títulos com pontos, o jeito de contar as histórias. Era isso. Eu gostava do jeito de contar uma história. E até hoje é o que mais me atrai é o que chamamos de "personagens".
Quando vivi o projeto Bebês do Brasil - que se tornou um livro - lembro me de como acompanhar aquelas famílias às voltas de seu lindo bebê era um escrever constante. Cada louça lavada, fralda trocada, carinho na cabeça ou detalhe contado ali para mim, cada instante que a história comum daquelas pessoas se tornava um registro, eu me sentia escrevendo o texto. Ali já começa a busca pela palavra perfeita.
Meu primeiro grande guia de como escrever, o jornalista Milton Bellintani, uma disse em sala de aula que sofria toda a vez que sentava para escrever. Isto me marcou para sempre e não como uma condenação, mas como um alívio: para mim, escrever é sofrimento e aí está sua beleza. Só em sofrimento, só na busca da palavra que melhor vai expressar o elo entre a história "presenciada" e eu é que vou daquele texto meu. Só assim vou chegar ao "texto que eu sou".

Este bebê lindo é Cristian, do Rio Grande do Norte, um dos retratados no livro Bebês do Brasil, lançado pela Editora Globo, foto de Fernando Martinho, que viveu a história dele comigo

Um comentário:

Laura Fuentes disse...

Linda a frase dele. Nosso texto é uma parte de nós que mostramos. É como se estivéssemos nos arrumando para sair, escolhendo cada palavra e pontuação, deixando-a respirar e, quem sabe, reverberar. Saudade, moça!
Lindo mais esse seu bebê...