sábado, 6 de março de 2010

Johnny Alf, por onde andou você?


Quase dois meses sem escrever e lá venho eu falando de morte... Mas me dá um alívio estranho quando a notícia de morte vem seguida de uma excelente existência. Como é o caso tanto do fanático por livros José Mindlin e o fanático pela boa música, como Johnny Alf.

Aqui um texto do Ruy Castro da Folha de hoje, sobre Alf e a importância dele para a nossa música, coisa que deve aparecer mais agora...

RUY CASTRO

Rapaz de bem
Em dezembro, Leny Andrade e Alayde Costa fizeram um show em homenagem a Johnny Alf no teatro Ginástico. Foram duas horas de amor, em que Leny e Alayde falaram de Johnny e cantaram seus clássicos e canções obscuras. Todos sabiam que sua saúde estava por um fio, mas não se pronunciou a palavra morte.
Não era necessário. Ali se tratava de celebrar a música, a beleza, o talento, a vida. Fazia-se por Johnny Alf o que deveria ter sido feito com frequência e em todos os anos: promover recitais, concertos e canjas com seus sambas - "Ilusão à Toa", "Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O Que é Amar", "Disa", "Fim de Semana em Eldorado", "Nós", "Eu e a Brisa" e muitos outros.
Mas não aconteceu assim, e Johnny morreu sem a consagração que bafejou em vida vários de seus contemporâneos, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell. Duas opiniões meio correntes acham que isso se deu por "racismo" (Johnny era negro) ou por Johnny ter trocado o Rio por São Paulo nos anos 50, antes da explosão da bossa nova (que ele ajudara a construir).
Será? Dolores Duran, o saxofonista Paulo Moura, Jorge Ben, Gilberto Gil e o próprio Baden não eram arianos, e isso não os impediu de vencer na bossa nova. E quem também saiu do Rio antes de o movimento explodir foi João Donato. Que se mudou até para mais longe: Los Angeles, onde ficou 13 anos. Pois Donato voltou em 1972, reassumiu sua cátedra e hoje é maior do que nunca.
Johnny não se sentia com uma cátedra a retomar. Por modéstia, dispensava tudo o que lhe ofereciam. Nas entrevistas, falava mais de suas admirações (Tom, entre elas) do que de si próprio. Não pedia nada para si. Era completo com sua arte. Quem fracassou fomos nós, que não soubemos dizer ao mundo o artista que tínhamos à mão.


Um pouquinho dele agora:



ou

A versão de Tim Maia para a maravilhosa Eu e a Brisa, de Alf. Achei no youtube aqueles "clipes", mas fica o prazer de ouvir. E há uma versão de Simoninha que adoro, mas não encontrei nada em boa qualidade.

Nenhum comentário: