Eu tinha 6 anos quando entendi o que era a relação de um fã com ídolo.
Era um dia histórico para a música, o assassinato de John Lennon. Vivíamos, então, dia 8 de dezembro de 1980 e a notícia da morte do Beatle tinha tomado conta do mundo e atingido a minha casa como bomba. Meu irmão, beatleomaníaco, sentia uma dor que tinha levado uma pessoa que ele nunca sequer encontrou. Uma pessoa com quem ele nunca tinha conversado. Mas alguém que ele havia anos ouvia todos os dias, sabia detalhes de sua vida, decorava tudo que ele tinha feito até que Mark Chapman decidiu que era hora de colocar fim, em plena Nova York. O símbolo de tudo era uma fita preta que meu irmão amarrou no braço. Seu luto e tristeza por alguém que ele nunca conversou.
Não por acaso, minha adolescência foi repleta de tietagem e as mais fortes foram The Police e U2. Fazem parte da minha vida até hoje, claro, mas de uma forma diferente. E nunca precisei abandonar isso. Adoro curtir tudo até hoje, mesmo que de forma menos intensa. Porque nunca fui de fazer loucura, eu tinha uma turma na adolescência e tudo girava em torno da música. É a música que me move. Em tudo, nunca posso ficar sem ela por muito tempo. É ela quem me leva a uma privilegiada infância regada a Abbey Road, Ópera do Malandro, uma adolescência de Joshua Tree...
E depois de, já aos 35 anos, emocionar-me desse jeito ao andar pela famosa Abbey Road em Londres e adorar ir exatamente no local de um dos clipes do U2, vejo que ter vivido essas paixões são ótimas lembranças.
E é lindo de novo me solidarizar com o sentimento do meu irmão, que viveu aquela dor, aquela saudade do que John ainda ia fazer, a tristeza à distância, a compaixão que aproxima, a paixão que me fez sentir tão bem na companhia de estranhos de vários idiomas, outras histórias, com o mesmo objetivo de dar uns passos na mesma rua que o mundo todo conheceu.
Estar lá fez todo o sentido.
post 0201
Há 10 anos